segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Tony Shalhoub fala sobre Monk

Monk, em inglês, quer dizer monge. Mas nos Estados Unidos, a palavra ganhou um novo significado há seis anos: esquisito. Isso graças ao sucesso da série homônima, protagonizada pelo ator Tony Shalhoub. Ele vive o detetive Adrian Monk, que coleciona diversos distúrbios obsessivo-compulsivo (TOC) desde que sua mulher morreu. Monk consegue resolver casos complexos mas não supera probleminhas como implicar com uma mancha na camisa. Uma das séries mais vistas na TV paga, exibida pelo Universal Channel, Monk, está em cartaz na sétima temporada, e grava o centésimo episódio, ainda inédito, que vai reunir grande parte dos atores convidados ao longo de seis anos. Graças ao investigador que não teme bandidos, mas tem medo de germes e bactérias, Shalhoub ganhou o Emmy e o Globo de Ouro. Nesta entrevista, ele comenta que também tem fobias na vida real e revela o desejo de que Monk termine como um longa-metragem, como ocorreu com Sex and the City.

AGÊNCIA ESTADO — Em que situação da sua vida real você chamaria Adrian Monk para resolver o caso? TONY SHALHOUB — Quase todos os dias. Tenho duas filhas adolescentes. Seria ótimo ter as habilidades dele para saber o que acontece na cabeça das garotas e, claro, por onde elas andam quando não estou perto. Você não tem idéia do quão complicado é ter filhas nesta idade. A forma de pensar delas é muito mais sofisticada do que a minha.

AE — É difícil ser pai de adolescentes em Hollywood? SHALHOUB — Hoje em dia, com tudo tão globalizado, acho que é difícil em qualquer lugar. O mundo ficou pequeno, a obsessão por celebridades se tornou mundial.

AE — Não cansa viver o mesmo personagem? SHALHOUB —Minha sorte é que os escritores acrescentaram novos desafios ao personagem a cada ano, aumentando as loucuras psicológicas dele. Trabalhei muito em teatro antes e sempre tive idéias para melhorar os personagens dois meses depois da peça começar, mas aí ela já estava terminando. Acho que trabalhar este tempão com Monk deu para aperfeiçoá-lo.

AE — Alguns críticos já dizem que está na hora de terminar a série. Qual é a sua opinião sobre isso? SHALHOUB — É possível que esta 7ª temporada seja a última, mas pessoalmente conseguiria fazer até um ano mais.

AE — E um filme? SHALHOUB —Isso é algo que estamos discutindo há quatro anos. Os escritores, o elenco, diretores, todo o time criativo adoraria fazer um filme. É só uma questão de convencer alguma distribuidora. A idéia seria terminar a série em forma de filme e resolver tudo nele. Adoraria ver isso.

AE — Que diferenças e semelhanças vê entre você e Adrian Monk? SHALHOUB — Tendo a ser na minha vida muito preocupado com tudo. Meus amigos e família poderiam dizer isso bem para você. Às vezes eu me preocupo demais com coisas pequenas e inconseqüentes. Neste ponto sou como Monk. E deste que estou fazendo a série fui “infectado” pelo personagem e suas manias. Me dei conta de que eu penso como ele faz um tempo. Por exemplo, quando estes dias eu estava num restaurante e comecei a me preocupar se os cardápios estavam limpos, porque muita gente manuseia aqueles cardápios todos os dias.

AE — Você visitou psiquiatras ou pessoas com TOCs para viver Monk? SHALHOUB — Conheci um psiquiatra que só lida com doentes de TOC. Ele me explicou as origens da doença e me deu vídeos. Foi também graças a ele que consegui dar um tom de humor a Monk.

AE — Você também coleciona fobias? SHALHOUB — Fobias nem tanto, mas também tenho pavor de germes, coisas assim. Também sou meio claustrofóbico. Mas juro que não sou uma pessoa paranóica. Uma das coisas que eu divido com o personagem é o problema em dormir por conta da ansiedade.

AE — Você se define um homem cheio de preocupações. O que mais o preocupa no dia-a-dia? HALHOUB — Coisas como ficar estereotipado por papéis no estilo Adrian Monk não são preocupações da minha vida. Tenho coisas muito menores para me preocupar, como manchas na minha camisa, o fio dental que caiu no chão, etc. Se eu começar a me preocupar com coisas maiores, me suicido.

AE —O personagem chega a ser tão irritante, mas o público o adora... SHALHOUB — É porque, apesar dos obstáculos que ele enfrenta até para sair da cama, ele dá um jeito de conseguir o que quer. Monk é tão bizarro que acho que muita gente se reconhece às vezes.

AE — Que tipo de personagens da televisão e do cinema você gosta? Quais diria que o inspira? SHALHOUB — Quando jovem, eu adorava a série Columbo, adorava o fato de o protagonista ser subestimado, especialmente sua inteligência, e eu adorava como Peter Falk imprimia personalidade a ele. Também sempre gostei do Sherlock Holmes,.

AE — Você estava rodando a comédia The Adventures of Beatle Boyin no cinema. Pretende investir nesta área depois da série? SHALHOUB —Definitivamente investirei mais em cinema, mas tenho algumas idéias para TV que gostaria de produzir, mas não atuar. Acho que depois de Monk, esperarei alguns anos para reaparecer.

AE — Nos últimos anos, parece que as séries de TV norte-americanas são mais ousadas, polêmicas e criativas que o cinemão de Hollywood. Você concorda com isso? SHALHOUB — Concordo. A TV a cabo ajudou muito a quebrar a fórmula convencional da TV. Eles aceitam correr mais riscos do que Hollywood. Não sei porque isso acontece, talvez porque tenham menos a perder. Os filmes comerciais são cada vez mais caros, os riscos têm que ser diminuídos, mesmo os filmes que têm estrelas bancáveis nem sempre chegam a um bom lucro. Mas eu também acho que muitos roteiristas se mudaram dos estúdios para as TVs a cabo em busca de novos desafios .
AE — O que achou da greve dos roteiristas? SHALHOUB — Foi muito importante, algo que os escritores tiveram de fazer para conseguir melhores direitos e estabelecer parâmetros de negociação. A indústria melhorou e prevaleceu um acordo razoável.

AE — O sucesso da série foi justamente no período mais difícil dos árabe-americanos nos Estados Unidos. Como isso o afetou, já que sua família fugiu do Líbano por perseguição religiosa? SHALHOUB — O pós-11 de setembro não afetou diretamente minha carreira. Mas trabalhei com muitos árabe-americanos, e vi muita gente se esforçando para apagar a imagem ruim que foi colocada.


Fonte: http://www.bemparana.com.br/index.php?n=91770&t=fui-infectado-pelo-personagem-e-suas-manias#

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